Uma virtude esquecida: a fortaleza
Os soldados de Cristo podem com absoluta segurança de consciência pelejar as batalhas do Senhor, sem receio de cometer pecado com a morte do inimigo, nem desconfiança de sua salvação se sucumbirem. Porque dar ou receber a morte por Cristo não só não implica ofensa de Deus nem espécie alguma de culpa, mas pelo contrário merece muita glória; pois que no primeiro caso o homem luta por seu Senhor e no segundo o Senhor se dá ao homem como prêmio; já que Cristo olha com agrado a vingança que se faz d’Ele contra seu inimigo, e com um agrado ainda maior se oferece Ele próprio como consolo ao que cai na luta. Assim, pois, afirmamos mais uma vez que o cavaleiro de Cristo mata com tranquilidade de consciência, e morre com confiança e segurança ainda maior. Se sucumbe, consegue para si uma grande vantagem; e, se sai vencedor, triunfa para Cristo. Não é sem motivo que traz a espada ao lado. Pois é ele ministro de Deus para castigar severamente os que se professam Seus inimigos; de Sua Divina Majestade recebeu o gládio para castigo dos que operam o mal e exaltação dos que praticam o bem. Quando tira a vida a um malfeitor, não deve ser chamado homicida, porém “malicida”, se é que assim me posso expressar; pois ele executa literalmente as vinganças de Cristo contra os que praticam a iniquidade, e adquire com razão o título de defensor dos cristãos. E se é morto, não dizemos que se perdeu, mas que se salvou. A morte que ele dá é para a glória de Cristo; e a que recebe é para sua própria glória. Na morte de um gentio, pode um cristão glorificar-se porque é Cristo que sai glorificado; e em morrer o cristão valorosamente por Jesus Cristo, patenteia-se a liberalidade do grande Rei, pois que tira da terra cavaleiro para lhe dar a recompensa. Assim, pois, alegrar-se-á o justo quando sucumbir o gentio, pois vê aparecer a vingança divina. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: “Porventura não haverá recompensa para o justo? É fora de dúvida que sim, pois há um Deus que julga os homens sobre a terra”. (Ps. 62,11).
Claro está que não se matariam os gentios, se pudessem ser contidos por qualquer outra forma, de maneira que não atacassem, nem estorvassem, nem oprimissem os fiéis. Porém no momento presente melhor é que se acabe com eles do que permitir que fique em suas mãos a vara com que tentam escravizar os justos, para evitar que estes passem com armas e bagagens para o partido da iniquidade.
Saia pois de sua bainha a dupla espada espiritual e material dos cristãos, e seja descarregada com força sobre a cerviz dos inimigos para destruir assim tudo quanto se ergue contra a ciência de Deus, isto é, a fé dos seguidores de Cristo, para que não digam jamais esses infiéis: “Onde está seu Deus?” (Do livro de Louvores e Exortações aos Cavaleiros do Templo, Capítulo III. Esses Cavaleiros eram monges guerreiros que se dedicavam à luta contra os maometanos). São Bernardo